"Tenho atualmente 33 anos e a sensação de que já se passou muito tempo e de que o tempo está a passar cada vez mais depressa a cada dia. Dia após dia, tenho de fazer todo o tipo de escolhas sobre o que é bom, importante e divertido e depois tenho de viver com aperda de todas as outras opçóes que essas escolhas eliminam. E estou a começar a ver como, `a medida que o tempo acelera, as minhas escolhas se irão reduzindo e que as eliminadas se irão multiplicando exponencialmente até que vou chegar a um ponto numa ramificação qualquer de toda a sumptuosa complexidade das ramificações da vida em que vou ficar finalmente fechado e preso num único caminho e o tempo me vai empurrar por estádios de extase, atrofia e decadência, até que vou acabar por me afundar pela terceira vez, toda a luta para nada, afogado pelo tempo. É pavoroso. Mas uma vez que são as minhas próprias escolhas que me vão prender, parece-me inevitável - se quiser ser minimamente adulto, tenho de fazer escolhas, lamentar as que eliminei e tentar viver com isso."
Uma Coisa Supostamente Divertida Que Nunca Mais Vou Fazer - Ensaios. DFW.
7he Day of the Locust
Em constante manutenção...
13 de fevereiro de 2014
9 de setembro de 2012
"A Leitura é a Maior das Amizades"
"A amizade, a
amizade que diz respeito aos indivíduos, é sem dúvida uma coisa frívola,
e a leitura é uma amizade. Mas pelo menos é uma amizade sincera, e o
facto de ela se dirigir a um morto, a uma pessoa ausente, confere-lhe
algo de desinteressado, de quase tocante. E além disso uma amizade
liberta de tudo quanto constitui a fealdade dos outros. Como não
passamos todos, nós os vivos, de mortos que ainda não entraram em
funções, todas essas delicadezas, todos esses cumprimentos no vestíbulo a
que chamamos deferência, gratidão, dedicação e a que misturamos tantas
mentiras, são estéreis e cansativas. Além disso, — desde as primeiras
relações de simpatia, de admiração, de reconhecimento, as primeiras
palavras que escrevemos, tecem à nossa volta os primeiros fios de uma
teia de hábitos, de uma verdadeira maneira de ser, da qual já não
conseguimos desembaraçar-nos nas amizades seguintes; sem contar que
durante esse tempo as palavras excessivas que pronunciámos ficam como
letras de câmbio que temos que pagar, ou que pagaremos mais caro ainda
toda a nossa vida com os remorsos de as termos deixado protestar. Na
leitura, a amizade é subitamente reduzida à sua primeira pureza. Com
os livros, não há amabilidade. Estes amigos, se passarmos o serão com
eles, é porque realmente temos vontade disso. A eles, pelo menos, muitas
vezes só os deixamos a contragosto. E quando os deixamos, não temos
nenhum desse pensamentos que estragam a amizade: — Que terão eles
pensado de nós? — Não tivemos falta de tacto? — Teremos agradado? — nem o
medo de sermos esquecidos por um deles. Todas estas agitações da
amizade expiram no limiar dessa amizade pura e calma que é a leitura.
Também não há deferência; só rimos com o que diz Molière na exacta
medida em que lhe achamos graça; quando ele nos aborrece, não temos medo
de mostrar um ar aborrecido, e quando estamos decididamente fartos de
estar com ele, pômo-lo no seu lugar tão bruscamente como se ele não
tivesse nem génio nem celebridade. A atmosfera desta pura amizade é o
silêncio, mais do que a palavra. Porque nós falamos para os outros, mas
calamo-nos para connosco mesmos. É por isso que o silêncio não traz
consigo, como a palavra, a marca dos nossos defeitos, das nossas
caretas. Ele é puro, é verdadeiramente uma atmosfera. Entre o pensamento
do autor e o nosso não interpõe elementos irredutíveis refractários ao
pensamento, os nossos egoísmos diferentes. A própria linguagem do livro é
pura (se o livro for digno desta palavra), tornada transparente pelo
pensamento do autor que dele retirou tudo quanto não fosse ele próprio
até o transformar na sua imagem fiel; cada uma das frases, no fundo,
semelhante às outras, dado que todas são ditas através da inflexão única
de uma personalidade; daí uma espécie de continuidade, que as relações
da vida e o que estas associam ao pensamento como elementos que lhe são
estranhos excluem e que permite muito rapidamente seguir o próprio fio
do pensamento do autor, os traços da sua fisionomia que se reflectem
neste espelho tranquilo. Sabemos apreciar os traços de cada um deles sem
termos necessidade de que sejam admiráveis, pois é um grande prazer
para o espírito distinguir essas pinturas profundas e amar com uma
amizade sem egoísmo, sem frases, como dentro de nós mesmos."
"A Leitura é a Maior das Amizades"
Marcel Proust, em 'O Prazer da Leitura'
Marcel Proust, em 'O Prazer da Leitura'
3 de setembro de 2012
"So you want to be a writer"
By Charles Bukowski
if it doesn’t come bursting out of you
in spite of everything,
don’t do it.
unless it comes unasked out of your
heart and your mind and your mouth
and your gut,
don’t do it.
if you have to sit for hours
staring at your computer screen
or hunched over your
typewriter
searching for words,
don’t do it.
if you’re doing it for money or
fame,
don’t do it.
if you’re doing it because you want
women in your bed,
don’t do it.
if you have to sit there and
rewrite it again and again,
don’t do it.
if it’s hard work just thinking about doing it,
don’t do it.
if you’re trying to write like somebody
else,
forget about it.
if you have to wait for it to roar out of
you,
then wait patiently.
if it never does roar out of you,
do something else.
if you first have to read it to your wife
or your girlfriend or your boyfriend
or your parents or to anybody at all,
you’re not ready.
don’t be like so many writers,
don’t be like so many thousands of
people who call themselves writers,
don’t be dull and boring and
pretentious, don’t be consumed with self-
love.
the libraries of the world have
yawned themselves to
sleep
over your kind.
don’t add to that.
don’t do it.
unless it comes out of
your soul like a rocket,
unless being still would
drive you to madness or
suicide or murder,
don’t do it.
unless the sun inside you is
burning your gut,
don’t do it.
when it is truly time,
and if you have been chosen,
it will do it by
itself and it will keep on doing it
until you die or it dies in you.
there is no other way.
and there never was."
if it doesn’t come bursting out of you
in spite of everything,
don’t do it.
unless it comes unasked out of your
heart and your mind and your mouth
and your gut,
don’t do it.
if you have to sit for hours
staring at your computer screen
or hunched over your
typewriter
searching for words,
don’t do it.
if you’re doing it for money or
fame,
don’t do it.
if you’re doing it because you want
women in your bed,
don’t do it.
if you have to sit there and
rewrite it again and again,
don’t do it.
if it’s hard work just thinking about doing it,
don’t do it.
if you’re trying to write like somebody
else,
forget about it.
if you have to wait for it to roar out of
you,
then wait patiently.
if it never does roar out of you,
do something else.
if you first have to read it to your wife
or your girlfriend or your boyfriend
or your parents or to anybody at all,
you’re not ready.
don’t be like so many writers,
don’t be like so many thousands of
people who call themselves writers,
don’t be dull and boring and
pretentious, don’t be consumed with self-
love.
the libraries of the world have
yawned themselves to
sleep
over your kind.
don’t add to that.
don’t do it.
unless it comes out of
your soul like a rocket,
unless being still would
drive you to madness or
suicide or murder,
don’t do it.
unless the sun inside you is
burning your gut,
don’t do it.
when it is truly time,
and if you have been chosen,
it will do it by
itself and it will keep on doing it
until you die or it dies in you.
there is no other way.
and there never was."
3 de julho de 2012
Génese
As primeiras palavras são as mais importantes. Na maioria das vezes não damos conta de como soamos ridículos. Por excesso de entusiasmo, porque se admira alguém, ou então acabrunhados, tímidos porque... Se admira, também.
Comecei a imaginar a primeira frase alguma vez dita pelo Homem ou espécie que o antecedeu. Qual pai de toda a literatura que lhe sucedeu. O que disse e porque? Em que circunstância? Imagino este homem primitivo a remoer ideias na cabeça. Provavelmente furioso com o seu vizinho que insiste em evacuar do lado da gruta do nosso primeiro articulador de palavras, na eminência da maior das descobertas. Talvez para não recorrer a violência, gesticula e aponta, soltando sílabas que um dia serão "Não cagues no meu quintal seu..." Algo assim.
Recuando meia dúzia de linhas, no ponto em que as palavras teimam em falhar perante o receptor. Como pode algo tão puro como uma sensação sair da nossa boca de forma tão medonha? Falta de prática.
Por: The Locust
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